Pouco movimento na fronteira causa decepção em comerciantes de Irigoyen
As exigências tornam a passagem onerosa para a população
Por: Itamar Soares
20 de outubro de 2021
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Itamar Soares

As expectativas para a inauguração da passagem de fronteira Bernardo de Irigoyen-Dionísio Cerqueira (Brasil) não duraram muito.

É que depois da abertura da fronteira seca ontem, o movimento de travessia ficou bem abaixo do esperado. Os moradores atribuem as exigências de entrada tanto do lado argentino quanto do brasileiro, principalmente aos altos custos de realização dos testes PCR Covid-19.

Algo semelhante acontece em Puerto Iguazú, de onde se constata que, passadas mais de três semanas da habilitação da ponte Tancredo Neves, os resultados esperados ainda não foram alcançados. Estima-se que ingressem apenas 100 brasileiros por dia, o que seria devido ao alto custo que o teste de PCR representa para os habitantes daquele país.

Tem um custo de 150 reais por pessoa, o que equivale a aproximadamente 5.100 pesos dependendo da mudança (na fronteira a mudança fica entre $ 34 e $ 38).

Isso significa que, para uma família típica de quatro pessoas, o custo ultrapassa 20.000 pesos apenas para atender a esse requisito.

Enquanto isso, em Irigoyen os mesmos preços são praticados, de forma que no primeiro dia de abertura o tráfego foi decepcionante para os comerciantes que esperavam com ele a tão esperada recuperação econômica.

Requisitos

A fronteira seca foi habilitada como corredor seguro na manhã de ontem, segundo os mesmos protocolos que haviam sido implantados em Puerto Iguazú, conforme indica a decisão administrativa 989/2021 publicada no Diário Oficial da Nação.

Desta forma, a quem tenta entrar na província de Misiones é solicitado o teste PCR negativo para Covid-19, teste antigénico, declaração juramentada e certificado de vacinação com esquema completo.

Do lado brasileiro, os requisitos serão os mesmos. Além disso, quem atravessa o país vizinho por essa rota só poderá permanecer nas cidades fronteiriças de Dionísio Cerqueira e Barracao, devendo regressar em 24 horas, permanecendo em vigor a cota de 800 travessias por dia.

O fato ficou sabido após reunião realizada ontem de manhã na Alfândega Integrada de Cargas, onde o prefeito de Bernardo de Irigoyen Guillermo Fernández, juntamente com outras autoridades locais de saúde e segurança, órgãos que desempenham funções de controle na passagem de fronteira e autoridades brasileiras, coordenaram as operações e protocolos.

Também acompanhava o dia o subsecretário de Saúde Héctor Proeza, que defendeu que "é um avanço, podemos dizer que a fronteira está aberta com reciprocidade em termos de pedidos de exames, o que dificultará um pouco a passagem, no caso de Argentina para turistas em todo o território argentino. E do lado brasileiro apenas para as cidades fronteiriças de Barracão e Dionísio Cerqueira".

"As limitações são dadas porque eles têm um trânsito de bairro de fronteira e nós temos um corredor turístico", acrescentou a este respeito.

Já o prefeito de Irigoyen, frisou que "nestes dias vamos ver como continuamos a nos tornar mais flexíveis, faremos um trabalho conjunto para voltar à normalidade".

Ele explicou que para entrar no Brasil é preciso ter um documento que comprove seu endereço em Irigoyen. Ele disse ainda que deve ser levado em consideração que as cidades fronteiriças têm uma restrição de tempo de 8 a 18 horas para circular. O prefeito também anunciou que continuará pedindo protocolos mais flexíveis devido à reciprocidade e proximidade das cidades vizinhas.

Decepção

Quando se soube da notícia da inauguração, as expectativas em Bernardo de Irigoyen eram altas. Na segunda-feira, depois de saber que a passagem finalmente seria aberta, o prefeito Fernández indicou que estava "na expectativa sobre este grande acontecimento".

Por fim, a abertura aconteceu ontem com a presença de autoridades do Ministério da Saúde e das forças de segurança, além da Alfândega, Imigração, Senasa e Polícia Nacional. Ao mesmo tempo, havia destacado a abertura de "uma passagem segura, respeitando o protocolo estabelecido".

"Vamos poder nos ver de frente com nossos irmãos e colegas brasileiros, poder dialogar, fazer compras de um lado e de outro, também incentivar o turismo entre outras atividades que podem ser desenvolvidas. nesta bela fronteira, estou muito feliz porque o prefeito e os comerciantes também estão felizes e com grande expectativa, todos estão muito felizes", disse.

No entanto, não foi o caso e foi justamente o sector comercial que mais se decepcionou e lamentou o número de requisitos solicitados para a travessia, uma vez que desincentivou a passagem de potenciais compradores.

Desapontado

Walter Feldman, presidente da Câmara de Comércio local, referiu-se a isto e insistiu que "estamos um pouco desiludidos, porque pensávamos que o tráfego fronteiriço ia ser mais acessível. Não esperávamos que essa fronteira tivesse um controle tão rigoroso porque sabemos que é uma fronteira especial pelo tipo de passagem que tem".

"De qualquer forma, sabemos também que no início de novembro isso vai ficar mais flexível e talvez outras medidas mais acessíveis sejam adotadas, agora está difícil porque por enquanto só pode entrar no Brasil o morador de Bernardo de Irigoyen. Quando pedirem apenas as duas doses da vacina, a movimentação será um pouco mais rápida", determinou.

O que é esperado

O setor não perde as esperanças de que nos próximos meses volte a ver a circulação massiva e diária que antes era normal na fronteira seca.

Nesse sentido, Feldman acredita que os itens mais procurados serão o wine bar, a perfumaria, os doces e os combustíveis, que em tempos pré-pandêmicos eram produtos exigidos e muito transportados pelos vizinhos brasileiros.

 "Aproveitando o câmbio, eles vão focar em produtos de alta qualidade. O combustível será um dos principais", indicou.

Acrescentando: "Há uma diferença de mais ou menos 80 pesos, com a mudança de hoje o combustível está em torno de 190 pesos por litro, o que seria de seis reais".

 Graças a esse contexto de troca com o Brasil, o equilíbrio econômico neste momento seria favorável aos comerciantes argentinos e, segundo suas estimativas, será assim por um tempo.

"Há muita diferença com o câmbio, estimamos que por um longo período será assim. O que é bom para aproveitar e equalizar as vendas perdidas durante o período de fechamento ", disse.

Porém, por enquanto, a passagem em Irigoyen e Dionísio Cerqueira permanece quase vazia, aumentando a preocupação dos comerciantes locais.

Fonte: El Território
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