Após três décadas na advocacia, a catarinense Ana Cristina Blasi será desembargadora do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região). Ela e outros 11 magistrados tomam posse nesta segunda-feira (12), às 16h, em cerimônia na sede do Tribunal, em Porto Alegre (RS).
Agora, a corte terá 39 desembargadores representando Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Mestre em direito e especializada em direito digital (Lei Geral de Proteção de Dados), além de juíza do TRE-SC (Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina), de 2015 a 2017, Ana Cristina se destacou, também, na defesa da vice-governadora Daniela Reinehr, no processo de impeachment, quando obteve a absolvição de Daniela.
Após integrar uma lista sêxtupla, que virou tríplice, e chegou às mãos do presidente Jair Bolsonaro (PL), Ana Cristina foi escolhida, em 11 de novembro, para o TRF-4. Leitora do professor Celso Antônio Bandeira de Mello e seguidora da doutrina americana, a magistrada vai, agora, para o outro lado do balcão e está muito orgulhosa disso.
Por que essa indicação é importante e histórica para Santa Catarina?
Houve um esforço comum dos advogados de Santa Catarina, buscando trazer essa vaga. Como o Tribunal tem sede no Rio Grande do Sul, a maioria dos juízes são gaúchos. Além do que, sempre lutei pelo protagonismo feminino. Então, é muito significativa a minha nomeação, até como exemplo para as outras mulheres. São 33 anos de Tribunal e sou a primeira mulher nomeada pelo quinto constitucional. Além disso, estamos há 23 anos sem a nomeação de um advogado catarinense para o Tribunal.
Por que o Direito?
Quando fiz o vestibular, fazíamos medicina, direito ou engenharia. Sempre fui de humanas, então, foi natural. Entrei na faculdade em 1987 e sempre me encontrei no direito. Um propósito de vida mesmo. E claro tem o escritório da minha família, onde trabalhei desde menina e onde fui forjada. Ser juíza do TRE-SC também foi uma grande experiência. Ali, me encantei com uma experiência que o advogado não tem, que é participar de um colegiado. É muito interessante, porque cada um tem uma forma de pensar e começamos a entender o lado do julgador. A beleza do quinto constitucional é levar o olhar da advocacia para dentro do tribunal.
O que muda na sua vida agora. Como estão a cabeça e o coração?
Tenho acordado de madrugada. Entreguei, há duas semanas, a minha credencial de advogada na OAB. Foi marcante. Fui ao meu órgão de classe, entreguei a credencial, pedi o cancelamento da minha inscrição, porque é uma exigência. Além disso, o momento de desmontar o meu escritório, desmontar uma história de 30 anos, mexer em processos antigos, clientes que faleceram, livros que estudei. Fui para casa muito mexida, mas é para o bem. Estou pronta para servir o meu país. Tenho formação suficiente, amadurecimento pessoal e profissional para exercer um cargo dessa magnitude. É um cargo muito alto e de muita responsabilidade. No TRF-4, julgamos crimes federais, questões envolvendo servidores públicos federais, questões previdenciárias. O TRF-4 é o Tribunal da Lava-Jato e por isso ficou famoso no país todo.
Qual sua recomendação para estudantes de direito que estão começando e anseiam um grandes postos. O que precisam fazer?
É muito estudo, muito trabalho, uma ética profissional muito grande. Os estudantes, primeiramente, têm que acreditar que é possível, trabalhar muito, lutar e fazer da sua vida diária uma vida de princípios e valores. Além disso, não desistir jamais. Quando ganhei as minhas filhas, pensei que não ia dar conta, mas o meu marido sempre me apoiou muito e o melhor que eu fiz foi não parar, porque se tivesse parado, teria perdido o bonde.