Especialistas criticaram a decisão – eles avaliaram que os riscos incluem o aumento de viagens dentro do país, importação de novas variantes e aumento da taxa de contágio.
A médica Lucia Pellanda, professora de epidemiologia e reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), fez avaliação semelhante.
O epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), disse que a decisão é "temerária".
O Chile tinha surgido como candidato informal para sediar o torneio junto com a Argentina – mas, como só poderia receber um grupo de equipes, a Conmebol achou melhor realizá-lo em um só país, para evitar deslocamentos. Até agora, 52% da população chilena já recebeu as duas doses de alguma vacina contra a Covid-19.
"Você vai ter uma circulação de indivíduos, vários times de futebol circulando, vários países que não fecharam fronteiras para locais com variantes de preocupação e que podem entrar no Brasil. Estamos vendo os 'atletas' se colocando em risco em festas clandestinas em um cenário catastrófico. Além disso, essa faixa etária nem tem vacina prevista. Tudo isso só colabora para a gente ir contra esse tipo de evento no país", disse Suleiman.
Dois especialistas ouvidos pela reportagem qualificaram a decisão da confederação como "triste".
Para a epidemiologista Ethel Maciel, professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o anúncio é "inacreditável. E ainda com a variante identificada na Índia aqui no Brasil. Muito triste. É muita irresponsabilidade com a vida dos brasileiros. Mais uma vez as questões financeiras se sobrepondo às questões de saúde publica", lamentou.
"Estamos na terceira onda, com aumento do número de casos, e não há nenhuma razão lógica para essa decisão do Brasil. Vamos colocar mais pessoas em risco. Governo brasileiro erra novamente e dá um péssimo exemplo para o resto do mundo", disse Maciel.
"Nós ainda temos que considerar que grande parte dos nossos pacientes, da nossa população, não é diagnosticada com a infecção. Sabemos que uma parcela, principalmente os assintomáticos, acabam não sendo diagnosticados. Então, esses números [de casos] na verdade são maiores”, pontuou o médico.
“A partir do momento que nós temos uma competição desse porte, com muitas pessoas vindo de outros países para o Brasil, isso acaba gerando um risco muito grande”, avaliou.
"É claro que você pode minimizar com testagem, com vacinação de atletas, com várias estratégias – vacinação de atletas creio que nem dá mais tempo [para a Copa América, como vem ocorrendo para as Olimpíadas]. Mas os testes falham, as vacinas falham. Você coloca países diferentes e troca variantes, então não é momento de se ter, a despeito dos interesses comerciais envolvidos, eventos internacionais de confraternização. Sanitariamente, não há como apoiar e como achar que seja o momento adequado", afirmou.
"Claro que a gente entende que, logisticamente, o Brasil é um país mais fácil – tendo em vista os ótimos estádios, a estrutura de aeroportos, mas, no momento em que a gente está entrando na terceira onda, confirmar um evento desse no Brasil tem que ser visto com bastante cautela. Ainda mais porque já tem estudos mostrando que as bolhas geradas pelo futebol contra a Covid têm sido sistematicamente furadas – toda hora a gente olha surto num time, surto no outro time. Vejo com preocupação. Não tem como dizer nada diferente", disse.