Mais de 160 policiais militares recusaram vacina contra Covid em SC
Um em cada quatro policiais militares de SC já pegaram a doença. Há recusa registrada em Dionísio Cerqueira.
Por: Alisson Júnior
02 de junho de 2021
A- A A+

Pelo menos 163 policiais militares assinaram termos de recusa de vacinação da Covid-19 em Santa Catarina. Documentos obtidos pela NSC mostram que os termos foram assinados em unidades da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC) em 36 cidades (veja abaixo a lista das cidades). Os termos têm sido assinados desde 9 de abril, quando começou a imunização das forças de segurança no estado. Na segunda-feira (31), foram mais sete declarações.

A vacinação não é obrigatória na Polícia Militar. Ao todo, segundo a PMSC, 42% do efetivo de aproximadamente 10 mil policiais recebeu pelo menos uma das doses.

A PMSC não informou se os oficiais que se recusaram a tomar o imunizante poderão sofrer penalidades. Até as 16h desta terça-feira (1º), a PMSC também não respondeu aos questionamentos feitos pelo G1 SC sobre as recusas.

Segundo os últimos números divulgados pelo Governo do estado, a Covid-19 contaminou 2.426 policiais militares catarinenses: é cerca de 1 a cada 4 policiais contaminado. Três PMs morreram por complicações causadas pelo coronavírus.

Joinville, no Norte catarinense, é a cidade com o maior número de declarações de recusa obtidas pela NSC. Entre 14 e 16 de abril, cerca de 44 policiais dos dois batalhões da cidade manifestaram a recusa. A vacinação desses profissionais começou pela capital e Joinville antes de se expandir para as demais cidades.

Nos termos de recusa, os policiais escrevem o nome fabricante da vacina que não querem tomar. Alguns especificaram "Coronavac" e outros "Asteazeneca", porém outros escreveram apenas "vacinação Covid-19".

Em uma delas um tenente da PM escreveu "qualquer uma". Em outro termo de recusa, um oficial escreveu: "tenho dúvidas em relação a eficácia devido instabilidade política do Brasil (sic)".

Para o professor titular da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani, esses agentes não deveriam entrar em contato com a população.

"A função do estado é zelar pela saúde das pessoas, o estado não pode mandar um agente que pode estar com Covid. É muito importante lembrar que muitos policiais passaram na frente de outros grupos prioritários", explica.

Segundo o professor, a resistência à imunização tem sido registrada em polícias do país inteiro, principalmente nas militares. O pesquisador acredita em uma "ideologização" da PM.

"Ela (a PM) possui vários praças, vários oficiais, que são seguidores cegos do presidente da República. Toda a ideologia bolsonarista se coloca contra a vacinação, isto acaba fazendo com que estas pessoas acabem adotando uma postura política de recusar a vacinação", afirma Rafael Alcadipani.

Impactos da Covid-19 e a importância da vacina

A maior parte do público-alvo da vacinação é o efetivo da chamada "rádio-patrulha". São as viaturas que fazem rondas e atendem ocorrências de todo tipo. O cabo Thiago Ribeiro, que atua em Palhoça, na Grande Florianópolis, afirma que os profissionais atuam em situações extremas. O cabo teve Covid no fim do ano passado e tomou a vacina.

"Tivemos que tirar algumas pessoas de um apartamento que sentiam alguns sintomas e não queriam ir para o hospital, para não perder o emprego. Tivemos que intervir e conduzir uma pessoa pro hospital, porque ela podia propagar a doença para outras pessoas. Conversei com pessoas, tentando incentivar e mostrar pra eles que é uma situação extrema e a gente tem que ajudar, tomando a vacina, tem pessoas que se espelham na gente, temos que ser o exemplo", diz o cabo Ribeiro.

Segundo, o tenente Eduardo Sérgio Nunes, que comanda 60 policiais militares na Grande Florianópolis, os afastamentos causados pela doença impactaram a rotina de tropas.

"Tivemos guarnições inteiras contaminadas, tivemos afastamentos, teve situações, em semanas, tivemos 5, 6 policiais afastados em razão do Covid em momentos mais críticos ", diz o tenente Eduardo Sérgio Nunes.

Em toda a PMSC, os afastamentos chegaram a 4,8 mil. O tenente Eduardo Nunes afirma que todos sob seu comando entenderam o risco à saúde e a importância de se vacinar. Segundo ele, nenhum assinou o termo de recusa.

A Polícia Militar de São Paulo (PMSP), que é maior polícia militar brasileira, informou que pelo menos 96% do efetivo já foram imunizados. Em nota à NSC, a PMSP disse que houve queda de 71% nas internações em UTI e de 34% em enfermarias, entre o efetivo paulista. Os afastamentos, que chegaram a 1.700 em uma mesma semana, agora giram em torno de 300.

Cidades com casos de dispensa de vacina na PM

Lages
Curitibanos
Itapoá
São José
Schroeder
Corupá
Sombrio
Joinville
Barra Velha
Canoinhas
Ibirama
Santo Amaro da Imperatriz
Governador Celso Ramos
Rio do sul
Florianópolis
Guaramirim
Botuverá
Navegantes
Praia Grande
Garopaba
Balneário Camboriú
Maracajá
Nova Veneza
Chapecó
Ituporanga
Petrolândia
Itapema
Cocal do sul
Dionísio Cerqueira
Capinzal
Anchieta
Rio das antas
Caçador
Fraiburgo
Içara
Imbituba

Fonte: G1
Fotos
Comentários