Tragédia Familiar - Mulher que assassinou o marido, conta detalhes de como cometeu o crime
Eu vou pra cadeia, vou cumprir a minha pena, mas eu me sinto mais livre
Por: Rossy Ledesma
21 de novembro de 2022
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Valdemir Hoeckler, de 52 anos, estava desaparecido desde a última segunda-feira (14), e foi encontrado na noite de sábado (19), congelado dentro do freezer da própria residência, no interior do município de Lacerdópolis, no Oeste de Santa Catarina.

A esposa confessou ter matado o homem e alegou ter sofrido violência doméstica. Ela concedeu uma entrevista e contou detalhes do crime.
– Ele era obsessivo, não queria que eu trabalhasse. Era muito ciumento, não podia ter amigos homens, nem mulheres. Se eu tinha alguma amiga, ele dizia para a pessoa que nós éramos lésbicas, que era para se afastar. 

Em 2019 eu fiz um boletim de ocorrência, mas o que é um boletim de ocorrência hoje? Eu pedi uma medida protetiva, mas a polícia não ajuda com nada, essa é a realidade. Eu tentei pedir ajuda para uma amiga para fugir, mas era muito medo, eu sabia que ele ia me encontrar, ia ser pior e ele ia acabar me matando. Depois que eu fiz o BO, ele me obrigou a tirar o boletim de ocorrência – conta.

Ela detalha ainda que após o boletim de ocorrência, a relação piorou. A filha do casal saiu de casa e ela sofria ainda mais. Chegou a contar que tentou tirar a própria vida se jogando do carro.

– Na pandemia também piorou muito. Ele não me deixava fazer nada, simplesmente não tinha vida própria. Eu não podia sair com as amigas, se tinha que trabalhar a noite tinha que mandar foto, fazer videochamada para ele ter garantia que eu estava lá, não podia me arrumar porque ele dizia que eu ia arrumar outro. Ele dizia que se eu deixasse dele, ele ia matar a minha filha, tiraria de mim o que eu mais amava – detalha.

Ela fala sobre o dia do crime, 14 de novembro:

– Uns dias antes tínhamos tido uma confraternização de professoras e ele apareceu do nada lá no local, eram apenas mulheres, minhas colegas, e eu fiquei muito chateada. 

Depois teve uma viagem que eram só professoras, ele já tinha dito que eu não iria, tentei conversar com jeitinho, afinal eu trabalho, tinha meu dinheiro, pagava conta de casa, todas as minhas coisas, eu não ganhava nada. 

Mas, no dia 13 ele me bateu e disse que eu não iria e que se eu fosse ele ia me buscar onde fosse e ia me matar. Eu dei uma desculpa no trabalho, disse que não estava bem e não iria no domingo. 

Quando ele chegou em casa, eu falei com ele de novo, pedi novamente e ele disse que se acordasse eu não estivesse em casa ele me mataria. 

Me deu um surto, eu pensei “se alguém vai morrer, que seja você”. Dei um remédio para ele dormir e sufoquei ele. Eu fiquei horas pensando no que ia acontecer, se ele ia acordar, me bater de novo. Passou uma hora, mais ou menos. Na hora eu peguei a sacola e coloquei na cabeça dele. Ele não acordou – relatou.

Após ter matado o marido, ela fala sobre ter colocado ele no freezer:

– Eu estava sozinha e levei-o sozinha. Eu queria esconder ele, peguei o lençol, o joguei em cima e coloquei no freezer. Depois disso, eu fui viajar com as minhas colegas do trabalho, mas não aproveitei nada. Cheguei lá e logo voltei – diz.

Agora, após o crime, ela fala o que espera:

– Na verdade, agora, eu acho que vou ver mais a filha que antes, porque antes ele não deixava. 

Agora, eu estou viva e ele está morto, não vai fazer nada com a minha filha. Eu vou pra cadeia, vou cumprir a minha pena, mas eu me sinto mais livre – finaliza.

Caso Valdemir: delegado detalha crime ocorrido em Lacerdópolis
O delegado da Polícia Civil, Gilmar Ântonio Bonamigo, deu detalhes na tarde deste domingo, dia 20, sobre o crime de homicídio ocorrido no interior de Lacerdópolis. O corpo de Valdemir Hoeckler de 52 anos, foi encontrado no sábado, dia 19, dentro do freezer da própria residência.

Conforme o delegado, Valdemir e sua esposa mantinham uma relação de união estável há mais de 22 anos, inclusive tem uma filha de 22 anos. Inicialmente, residiam em Concórdia, mas há cerca de 12 anos se mudaram e construíram uma casa na Linha São Roque, interior de Lacerdópolis. O homem trabalhava como motorista e a mulher como professora.

Normalmente o homem trabalhava como motorista de caminhão no período noturno, na segunda-feira, dia 14, por volta das 17h, a mulher saiu de casa para um encontro de professores em uma pousada de Abdon Batista, logo em seguida Valdemir sairia para o local de costume de encontro com o colega de serviço, para pegar a jornada noturna de trabalho.

Após a esposa sair de casa, ela recebeu um chamado do colega de Valdemir pedindo dele, pois ele não tinha comparecido. A mulher informou que saiu da residência, ele permaneceu e logo iria se apresentar. A mesma sugeriu e indicou para o homem o local em que estaria a chave do imóvel.

O homem foi até a residência do casal, entrou e os bens como a moto e o celular estavam na casa, Valdemir não foi encontrado. As buscas de informações para saber o que aconteceu iniciou e a esposa foi avisada sobre o desaparecimento, ela retornou da pousada em que aconteceria o encontro em Abdon Batista. No dia seguinte, a mulher chamou a Polícia Militar e fez o boletim de ocorrência. Os militares acionaram o Corpo de Bombeiros e as buscas foram iniciadas.

Com intuito de compreender e buscar os motivos do desaparecimento, na sexta-feira, dia 18, o delegado da Polícia Civil, Gilmar Antônio Bonamigo, chamou a mulher para prestar depoimento na Divisão de Investigação Criminal, em Joaçaba. Ela foi ouvida na condição de informante, pois os policiais buscavam entender o que havia acontecido, muito tranquila respondeu todas as perguntas, mas questionamentos ficaram vagos.

A mesma apresentava lesões pelo corpo, possivelmente de uma luta corporal, concordou em fazer o exame de corpo de delito e também autorizou a entrada na residência para a perícia com luminol.

A perícia foi agendada para a noite de sábado, dia 19, e momentos antes do horário, através de seu advogado, a mulher informou que havia passado mal. A responsável pela Delegacia de Polícia Civil de Lacerdópolis iniciou uma investigação e foi constatado que ela não deu entrada em unidades de saúde. Durante os procedimentos, apurou-se que ela teria fugido para Concórdia.

Segundo os vizinhos que são muito amigos e conheciam o casal, a casa foi trancada de uma maneira que estranharam a situação.

A Polícia Civil também recebeu outras informações que levava a suspeita de que o corpo poderia estar escondido na residência e possivelmente no freezer, pois um vizinho que frequentava a casa percebeu que dias antes o eletrodoméstico estava vazio, quando o Corpo de Bombeiros estava na propriedade realizando as buscas, ao abrir para pegar e servir um refrigerante para os bombeiros que estavam almoçando na casa, constatou que o freezer estava cheio.

Com todas as suspeitas, a Polícia Civil entrou na casa e encontrou o corpo que estava com uma sacola plástica na cabeça, não apresentava mutilação, estava inteiro e encolhido para caber no freezer.

A primeira suspeita é que Valdemir foi morto asfixiado, mas o corpo encontra-se congelado e possivelmente na manhã de segunda-feira será possível a autópsia, pois depende de um descongelamento total para a coleta de sangue e materiais biológicos para exames complementares, conforme o médico legista e os peritos. A mulher é investigada e suspeita pelos crimes de homicídio e ocultação de cadáver.

Há mais de 40 anos Lacerdópolis não registrava o crime homicídio doloso, aquele que ocorre quando uma pessoa tira a vida de outra intencionalmente.

Fonte: Com informações Lance Notícias
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