Calada, mulher que assassinou o marido e colocou o corpo no freezer se entrega à Polícia
Claudia Tavares Hoeckler, de 40 anos, se apresentou na delegacia de Joaçaba no início da tarde desta segunda-feira, uma semana após matar Valdemir Hoeckler, de 52 anos
Por: Rossy Ledesma
21 de novembro de 2022
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Claudia Tavares Hoeckler, de 40 anos, acusada de matar o marido Valdemir Hoeckler, de 52 anos, encontrado no freezer de casa em Lacerdópolis/SC, se entregou à polícia no começo da tarde desta segunda-feira (21).

A mulher chegou na Delegacia de Polícia Civil de Joaçaba, cidade vizinha, no banco de trás de um carro e acompanhada de vários advogados. Sem falar com a imprensa, ela entrou no prédio e foi direto para uma sala onde prestou depoimento sobre o crime.

Enquanto isso, a Justiça de Santa Catarina decretou a prisão temporária de Claudia. A juíza Flávia Carneiro de Paris, da comarca de Capinzal, em regime de plantão, também autorizou a quebra do sigilo telefônico e o acesso aos dados da investigada.

De acordo com o Poder Judiciário, o crime apurado se trata, em princípio, de homicídio qualificado por meio que dificultou a defesa do homem, já que a vítima foi encontrada com uma lesão na nuca.

“A segregação temporária da representada, neste momento, possibilitará também a melhor elucidação dos fatos, pois impedirá que a representada crie embaraços para a apuração da prática criminosa, especialmente para esclarecer os motivos e as circunstâncias do crime e eventual participação de terceiros”, disse a magistrada na decisão.

A prisão temporária tem o prazo de 30 dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. O processo tramita em segredo de justiça.

O crime

O corpo de Valdemir Hoeckler foi encontrado na noite de sábado (19) no freezer de sua casa em Lacerdópolis, cidade no Meio-Oeste de Santa Catarina. Ele estava desaparecido desde a segunda-feira (14), quando não apareceu para trabalhar, no entanto, o crime teria ocorrido ainda na noite de domingo (13).

Em seu primeiro depoimento, ainda na sexta-feira (18), antes de ser considerada suspeita do crime, Claudia disse que saiu de casa primeiro e o marido sairia em seguida, rumo ao compromisso de trabalho. Contudo, ele não foi ao encontro e a família começou a procurá-lo.

Após cinco dias de buscas, a Polícia Civil encontrou o corpo do motorista no eletrodoméstico na própria casa. A mulher permitiu a busca — mas não estava lá no momento e não foi localizada desde então. A polícia desconfiou do homicídio diante de versões desencontradas dadas pela esposa e outras informações colhidas com vizinhos.

A polícia informou ainda que no depoimento ela apareceu com hematomas e marcas de agressão no braço. Questionada sobre a origem dos ferimentos, ela não soube explicar — mas aceitou fazer o exame de corpo de delito, de acordo com o delegado.

Detalhes do crime

Em entrevista exclusiva ao canal de Beto Ribeiro, conhecido por realizar entrevistas e vídeos sobre crimes em todo Brasil, a esposa de Valdemir Hoeckler, confessou o crime e disse que decidiu tirar a vida do companheiro por não suportar mais ser agredida, perseguida e humilhada pelo homem.

Claudia é natural de Chapecó e contou detalhes sobre o relacionamento com Valdemir, com quem vivia há 23 anos e teve uma filha, que atualmente tem 22 anos.

Ela explicou como matou o marido, citou que vivia pressão psicológica constante no casamento e alegou ter sofrido agressões morais, físicas e sexuais dele, que a ameaçava de morte e dizia que ia lhe tirar a filha caso denunciasse os abusos à polícia.

“Ele não me deixava fazer nada, simplesmente eu não tinha vida própria. Eu não podia sair com as amigas. Eu ia ao salão fazer o cabelo e tinha que sair com o cabelo molhado, porque ele estava me enchendo o saco por estar demorando. Tinha que correr contra o tempo, a minha vida sempre foi sob pressão”, afirmou Claudia.

Disse que não planejou o crime, apesar de estar descontente com as constantes perseguições do marido e das diárias agressões físicas e morais. Dias antes, segundo ela, o marido apareceu repentinamente em uma confraternização com colegas professoras em uma pizzaria, o que lhe deixou incomodada.

“Ele tinha me dito que ia ficar em casa, fiz uma chamada de vídeo alguns momentos antes e, de repente, ele apareceu lá na pizzaria. Fiquei bem chateada, ficou como se eu não tivesse contado a ele. Mostrei todos os meus passos para ele, fui relatando tudo”.

A mulher contou que no domingo, momentos antes de matar o marido, ela teria pedido se poderia viajar com colegas professoras para uma excursão.  “Ele me bateu e disse que se eu fosse ele ia me buscar e me matar. Ele disse: se eu acordar e você não estiver em casa, eu mato você. Aí eu pensei, se alguém vai morrer, que seja você”.

Sacola plástica

Claudia contou na entrevista que fez o marido dormir com um remédio que o sogro, que já faleceu, tomava. “Dei remédio para dormir e o sufoquei, foi tudo repentino. Dei com os outros remédios que ele tomava duas vezes ao dia”.

Ela contou que ficou por cerca de uma hora pensando no que ia acontecer quando o marido acordasse e com medo de apanhar novamente. Ela disse também que não aguentava mais aquela vida que estava levando.

Então, sem planejar muito, usou uma sacola plástica para matar o companheiro. “Na hora peguei a sacola de mercado e coloquei na cabeça dele, porque eu não tinha coragem de fazer de outro jeito, machucar. Fechei a boca dele”.

A mulher diz que tentou parar em alguns momentos, mas sentiu medo e por isso seguiu em diante. “Se eu parasse e ele acordasse, ele ia me matar, aí era eu ou ele”.

Ela disse que agiu sozinha e teve forças suficientes para colocar o marido no freezer. “Eu queria esconder ele, então peguei o lençol, joguei ele em cima do lençol e arrastei ele até o freezer”. Depois, foi viajar com as colegas, mas não conseguiu aproveitar a viagem e logo retornou.

“É até difícil dizer, mas agora vou cumprir a minha pena, vou para a cadeia, mas eu nunca me senti tão livre. E sinto que a minha filha está mais segura.  Sei que vou parar de apanhar e ser agredida tanto fisicamente como psicologicamente. É uma liberdade, não sei explicar, mas hoje olho para as pessoas e me sinto um monstro”, completa.

Fonte: Com informações ND+
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