Caiu Raio no deserto. O Brasil venceu a Suíça por 1 a 0, com golaço de Casemiro, garantiu-se nas oitavas da Copa do Mundo de forma antecipada e respirou aliviado. Mas foi um sufoco. Sem Neymar, sentiu a falta de alguém que pudesse chamar o jogo de seu por inteiro. Até que Tite colocou em campo um dos caçulas da Seleção Brasileira. Rodrygo, 21 anos, entrou e mudou a cara de um jogo que parecia fadado ao empate.
Parecia que a Seleção ganharia esse jogo no ônibus. Eu, se fosse um daqueles recatados jogadores da seleção da Suíça, já teria entregue os tacos antes mesmo de a partida se iniciar.
O ônibus do Brasil estacionou no 974 Stadium, Tite e sua comissão desceram. Os jogadores seguiram lá, batucando, dançando e cantando um samba de estremecer o metal dos contêineres do 974. A câmera da transmissão interna da Fifa se fixou na roda do ônibus e nos amortecedores trabalhando, tamanha era a festa brasileira lá dentro.
Todos os jogadores desceram rindo, se abraçando. Pronto, pensei. Não vai sobrar suíço nesta noite aqui em Doha. Só que a seleção suíça, a essa altura, estava no vestiário, concentrada e decorando todos os movimentos para anular o Brasil. E como decoraram. Eles jogaram com uma precisão que só os relógios do país deles têm.
Murat Yakin trocou um extrema por um meio-campista e montou um 4-1-4-1 que formava barricadas na frente da área. Quando Vini pegava na bola, um suíço partia faminto para cima dele. Se a bola passava, ele ficava. Malvadeza com o Malvadeza.
Do outro lado, Raphinha gingava sua fina perna esquerda, negaceava e até levava vantagem. O problema, porém, estava no meio. Tite optou por Militão e, assim, Brasil ficou com quatro jogadores de características mais defensivas, já que Alex Sandro sai menos do que Danilo.
Casemiro também saía de forma menos aguda. Fred até se movimentava, buscava, mas com aceleração, não com jeito. Como Paquetá se enfiava entre os suíços, faltava armação. Faltava Neymar, a essa altura numa maca do hotel, tratando o tornozelo.
Assim, o primeiro tempo foi de bocejar. Os suíços estacionados na frente da sua área, os brasileiros embretados, e o samba aquele foi diminuindo. A torcida, que havia começado frenética atrás do gol de Alisson, também foi amornando, amornando, amornando até que restou um único tantan tocando sozinho. Foi triste até de ver.
A única chance do Brasil veio em um lance iniciado e finalizado por Vini. Ele roubou a bola do lateral, tocou para Casemiro, ela rodou e chegou em Raphinha. O cruzamento conectou as duas pontas, e Vini arrematou, livre, mas mal. Os suíços pouco ameaçavam. Tentavam em lançamentos, sempre interceptados por um Marquinhos soberbo.
O que fazia o jogo ser quase que todo de jogadas para os lados. Ficou tão monótono que alguém pescou sentado na sala de comando e bateu no interruptor. A luz do estádio apagou e, dois segundos depois, voltou. Mas isso foi insuficiente para tirar o Brasil da letargia. Foi quando Tite decidiu colocar Rodrygo para aquecer. Ele voltou do intervalo já com o guri do Real no lugar de Paquetá.
Segundo tempo
Para a etapa final, Tite sacou Paquetá, que teve sintomas gripais nos últimos dias, e colocou Rodrygo. Mas, assim como no início do primeiro tempo, o Brasil teve mais a bola e não conseguia penetrar na defesa suíça.
A equipe europeia deu um susto aos sete minutos, quando Widmer cruzou rasteiro e Xhaka tentou finalizar, mas foi travado por Marquinhos. Na sequência, Vargas recebeu na esquerda, cortou para o meio e chutou, mas a bola desviou na defesa e saiu para escanteio.
Aos 10, quem assustou foi o goleiro Alisson. Ele recebeu um recuo apertado de Militão e dividiu com Embolo. Para sorte do Brasil, ele ficou bom a bola e conseguiu sair jogando.
Para recuperar o protagonismo da partida, Tite fez uma troca no meio-campo aos 12 minutos: tirou Fred e colocou Bruno Guimarães. E o Brasil melhoru. Aos 18, Casemiro deu lindo passe para Vinícius Júnior, que invadiu a área em velocidade e marcou o gol. Porém, com a ajuda do VAR, a arbitragem assinalou impedimento de Richarlison na origem do lance.
A Seleção Brasileira seguia no ataque. E, para dar fôlego novo ao time, entraram Gabriel Jesus e Antony nas vagas de Richarlison e Raphinha aos 27. A Suíça também mexeu, mandando a campo Aebischer e Seferovic, mas só dava Brasil.
O prêmio saiu aos 37 minutos, quando Casemiro recebeu belo passe de Rodrygo e bateu forte, da entrada da área, para marcar um golaço que garante a classificação da Seleção Brasileira para os mata-matas.
Nos minutos finais ainda deu tempo de o caxiense Alex Telles entrar no lugar de Alex Sandro, mas foi praticamente só isso. O Brasil até rondou a área da Suíça, mas estava satisfeito com a vitória por 1 a 0. Afinal, quem precisa de chocolate se está nas oitavas de final.
Agora, as duas seleções terão três dias de descanso até a sexta-feira, quando voltam a campo às 16h. O Brasil encara Camarões, no Estádio Lusail, e a Suíça enfrenta a Sérvia, neste mesmo Estádio 974.