A Argentina está atenta à Europa e ao passaporte de vacina para o continente. O intuito é observar se o modelo funciona para, quem sabe, implantar algo semelhante por aqui. As fronteiras seguem fechadas para o turismo, e o foco do governo é vencer a segunda onda da covid-19 por lá. Mas destinos de natureza são a aposta para brasileiros, os mais numerosos visitantes estrangeiros no país.
“O ministro Matías Lammens (de Turismo) está de olho na reabertura da Europa. Essa é a primeira ideia para uma análise do que nós podemos fazer no futuro”, afirmou Ricardo Sosa, secretário executivo do Instituto Nacional de Promoção Turística da Argentina (Inprotur), em coletiva virtual para a imprensa sul-americana. “Em 60 a 90 dias, podemos falar mais precisamente sobre essas questões.” No app Mi Argentina, aplicativo oficial do governo, os argentinos podem incluir seus documentos oficiais e agora também o certificado de vacinação contra a covid-19.
Por enquanto, de acordo com Sosa, o empenho do governo está em acelerar a vacinação na Argentina – cerca de 27% da população está imunizada com a primeira dose. “Estamos trabalhando agora para superar a segunda onda da covid. Assim que passar isso, o ministério vai estudar a situação. Mas tem de haver reciprocidade entre os países para reabertura.”
Confiança nos protocolos argentinos
O secretário executivo do Inprotur contou que o governo esteve numa reunião na Tríplice Fronteira, onde está Foz do Iguaçu, no Paraná. De acordo com ele, em Missiones, província onde fica Puerto Iguazú, eles se sentem preparados para receber visitantes. A presença da Argentina em feiras internacionais pretende ainda divulgar as medidas de segurança sanitária e os protocolos seguidos no país, para ganhar a confiança do turista estrangeiro.
“A geração de confiança é o que podemos fazer agora para o turista internacional, para quando as fronteiras reabrirem”, disse Sosa. “Certamente, em um futuro próximo, as pessoas vacinadas serão as primeiras que poderão cruzar as fronteiras.”
O país fez uma campanha no verão deste ano voltada para o turismo doméstico. Circularam 15 milhões de viajantes argentinos. Além da implantação dos protocolos, o governo fez uma promoção para estimular as viagens: em cada pacote turístico comprado, a pessoa recebia um cashback, ou seja, parte do valor da compra devolvido.
De acordo com Sosa, os protocolos argentinos para hotéis, agentes de viagens, estações de esqui e atividades de turismo de natureza foram homologados pelo Conselho Mundial de Viagens e Turismo (World Travel & Tourism Council – WTTC) e estão em vigor em “23 províncias e 3 mil empresas”.
Mais destinos para brasileiros
“Temos destinos não conhecidos por brasileiros que se organizaram durante a pandemia, como as províncias de La Rioja e de Santa Cruz”, contou o secretário executivo do Inprotur. Além de destinos de natureza consolidados entre os viajantes do Brasil, como Bariloche e Mendoza, os argentinos planejam apresentar em feiras por aqui e na Colômbia outras opções, para a época em que as fronteiras entre os países reabrirem. “Na rota por geleiras, com sete a dez dias, o turista pode conhecer a Patagônia. Também pode navegar pela Cordilheira dos Andes. Normalmente se imagina a conexão da Argentina ao Chile por terra, mas se pode navegar de Bariloche em mini cruzeiros pelos lagos e ficar uma noite no Chile. Ou ir a Puerto Madryn, na Península Valdés, para avistar baleias.”
Esses são alguns dos produtos previstos pelo governo argentino para oferecer aos brasileiros já em Porto Alegre na feira Ugart, no meio do ano no Brasil. A 35ª edição da Feira de Negócios Turísticos da União Gaúcha das Operadoras e Representantes de Turismo (Ugart) está marcada para 30 e 31 de julho na capital do Rio Grande do Sul.
Em relação ao Brasil, a Argentina separa os turistas em dois segmentos: os que saem dos principais aeroportos brasileiros e aqueles que vão de carro. De acordo com Sosa, esses últimos representam 30 milhões de pessoas e há cidades distantes apenas 300 quilômetros de distância do país vizinho. Os habitantes do Sul do Brasil, segundo ele, podem ir a Missiones, Corrientes ou Entre Ríos, para fazer turismo de natureza, pesca esportiva e viagens com gastronomia.
“O turista brasileiro que viaja de avião vai muito também à cidade de Buenos Aires”, disse Sosa. “O Brasil é um país importante para o turismo argentino. Antes da pandemia, representava 1,5 milhão dos 7 milhões de turistas que ingressam na Argentina. O segundo era o Chile, com 1,1 milhão. São dois países fundamentais.” Segundo ele, a Argentina trabalha com 15 países prioritários, sendo que os cinco que fazem fronteira com eles respondem por 65% dos visitantes estrangeiros. Completam a lista Estados Unidos, México, Peru, Colômbia, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Espanha e Canadá.