MELZINHO DO AMOR: investigação revela o que tem no produto e como funciona a venda em SC
A produção, venda, publicidade e comercialização do Melzinho estão proibidas pela Anvisa desde maio no país.
Por: Alisson Júnior
18 de junho de 2021
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Após ser tema de funk até divulgado por artistas, o Melzinho do Amor entrou no radar da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Procon/SC e da Vigilância Sanitária de Santa Catarina. O produto vem sendo anunciado como estimulante sexual “natural”, mas não há certeza sobre sua composição. A suspeita das autoridades sanitárias é que ele tenha sildenafil, substância que compõe o Viagra. O risco é que a quantidade do medicamento presente no produto seja muito maior do que a que compõe o "azulzinho", o que pode provocar riscos à saúde.

A reportagem investigou por cerca de um mês como ocorre a venda do produto. A equipe entrou em contato com um vendedor da Grande Florianópolis que anunciava o Melzinho nas redes sociais e marcou um encontro. A outra compra foi feita on-line.

A produção, venda, publicidade e comercialização do Melzinho estão proibidas pela Anvisa desde maio no país.

A Anvisa diz que a venda desse tipo de produto é crime. O especialista em legislação do órgão, o advogado Carlos Eduardo Raulino explica que neste caso há ainda um risco para a saúde da população:

— Com certeza pode ser considerado crime. Ainda mais se esse medicamento antes do registro for considerado prejudicial à população e à comunidade em geral — afirma

Mesmo assim, não é difícil encontrar a oferta de pacotes sendo vendidos sem bula e com a embalagem em outro idioma.

Foi adquirido pela reportagem durante a investigação o produto da marca Vital Honey.

A equipe entrou em contato com um vendedor da Grande Florianópolis. As conversas para a aquisição do produto aconteceram pelo WhatsApp. Questionado sobre contraindicações da mercadoria, o homem afirmou que pessoas com problemas no coração não poderiam consumir o Melzinho.

A compra do produto aconteceu por volta das 16h do dia 2 de junho na Praça XV de novembro, Centro de Florianópolis. Confira um trecho da conversa entre o produtor e o vendedor:

Produtor: “E aí é quente então a parada, ‘véio’?”

Vendedor: “Então o pessoal compra direto comigo a?

Produtor: "Ninguém nunca passou mal? nenhuma restrição? Tem uns camaradas meio que são cardíacos”

Vendedor: "Aí não pode tomar”

Produtor: “Ele é igual o viagra?”

Vendedor: “É, mas não é tão forte assim. Viagra é forte".

O vendedor informou que revendia o produto e que comprava lotes com uma pessoa em Barreiros, bairro de São José, na Grande Florianópolis. Segundo ele, é possível adquirir três caixas com Melzinho por até R$ 200.

Para o advogado Carlos Eduardo Raulino os revendedores também têm responsabilidade pela venda ilegal.

— Os revendedores são obrigados a requerer e solicitar daquele distribuidor a legalidade e o registro daquele medicamento que ele tá se propondo vender. Ele não pode alegar que é leigo, que não tinha conhecimento porque é dever dele ter e exigir do distribuidor que está sendo permitida a revenda em território nacional — afirma.

Venda ilegal preocupa

A venda ilegal e fácil do Melzinho preocupa as autoridades sanitárias de Santa Catarina. A Diretora da Vigilância Sanitária de SC, Lucélia Scaramussa Ribas Kryckyj, explica que todos os produtos que têm fins terapêuticos precisam passar por uma regulamentação junto à Anvisa.

— A gente tem uma preocupação muito grande quando o produto vem para o mercado sem esse registro e sem ter um controle de qualidade. Em muitos deles [Melzinho], a rotulagem não tem nem mesmo a sua composição. Esse produto vem com uma apelação muito grande como se fosse inofensivo —afirma Lucélia.

Chama a atenção da vigilância também a grande quantidade de oferta do produto.

— Esse produto é comercializado em todo país pela internet [...] Ele tem uma infinidade de produtores que são desconhecidos. Isso dificulta a fiscalização— concluiu.

O diretor do Procon/SC, Tiago Silva, diz que o órgão prepara uma ação para retirada dos produtos do ar nas plataformas de venda. Uma ação de fiscalização também está prevista.

— O Procon expediu uma medida cautelar e nessa medida pede para esses sites a retirada imediata deste produto. Também paralelo a decisão do Procon estadual nós também já notificamos o Ministério Público para que imediatamente possa instaurar um Inquérito Civil para apurar a prática criminosa em relação aos fabricantes desses produtos — contou.

Fonte: Diário Catarinense e da NSC TV
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