Era para ser apenas uma saída para lanchar e relaxar após um dia de trabalho. O jovem Anderson Krahl, no entanto, acabou sendo brutalmente agredido em frente ao bar onde estava, em Jaraguá do Sul, no Norte de Santa Catarina, na madrugada de sábado (4).
Natural de Balneário Piçarras, o chefe de cozinha estava na cidade a trabalho, e havia saído à noite para comer algo diferente e tomar uma cerveja. Lá, ele conheceu um grupo de pessoas e começou a conversar. O agressor estava entre eles, segundo Anderson.
“Eu acabei questionando ele, sem maldade nenhuma: ‘ah, mas você não é gay?”, relata o chefe. “Foi quando ele deu uma cuspida no chão e falou: “Gay? Vocês são umas aberrações! Vocês são anomalias!”, lembra.
Percebendo a reação negativa, Anderson saiu de perto e voltou a conversar com meninas que havia conhecido no local.
O assunto, então, se voltou à sua ascendência alemã. “Falei sobre meus avós, que a gente estava quebrando paradigmas em casa”, relatou. O homem teria escutado e voltado a afrontar o jovem.
“Ele ficou nervoso de novo e disse: ‘Vocês estão falando mal de alemães agora, seu viado? Eu vou arrebentar tua cara no asfalto”.
Agressão
Anderson diz que saiu, bastante nervoso, do estabelecimento. “Eu falei ‘oh gente, estou indo embora, não preciso ficar passando por isso”, lembra.
Duas mulheres que estavam no bar se ofereceram para acompanhá-lo até a pousada onde estava hospedado. Segundo Anderson, já do lado de fora, o homem, que também estava indo embora, parou o carro, desceu do veículo e iniciou as agressões.
No corpo, ficaram os hematomas e as marcas. Anderson, inclusive, precisou levar pontos atrás da cabeça. Ele registrou um BO (Boletim de Ocorrência).
De acordo com o delegado Marcelo Schiebelbein, só após a conclusão do inquérito será possível decidir se as agressões aconteceram em contexto de homofobia.
Se for confirmado, o autor poderá responder também por lesões corporais e crime de racismo. Isso porque, em 2019, o STF (Supremo Tribunal Federal) equiparou homofobia à crime de racismo.
Repercussão
Nas redes sociais, Anderson recebeu apoio de amigos e desconhecidos.
Uma mulher, por exemplo, afirmou que o chefe cuida dos pais doentes e dos primos órfãos e que ele “não merecia”.
Anderson afirma que já passou por situações discriminatórias, mas a agressão nunca foi tão intensa. “Percebi que tenho que ser mais discreto do que eu já tento ser, porque eu corro risco de passar por esse tipo de situação”, lamenta. “Eu vi a raiva nos olhos dele”, completa.
OAB se manifesta
Como o agressor seria um advogado do Paraná, a OAB de Santa Catarina se manifestou e emitiu uma nota de repúdio.
Disse que está acompanhando as diligências e que, se for confirmado que o agressor é advogado, vai instaurar um procedimento ético-disciplinar.
“A OAB/SC e a Subseção estão diligenciando esforços junto à delegacia para obtenção de informações sobre o caso e apurar possível crime de homofobia”, diz a nota.