Pelo menos para a próxima eleição, o Brasil está livre da farra dos partidos de aluguel que, sem força para eleger deputados, se penduram em siglas maiores e formam alianças de ocasião. O Senado barrou a emenda que havia sido aprovada na Câmara e a regra que vigorou em 2020, na escolha dos vereadores, será mantida em 2022: os partidos elegerão deputados estaduais e federais de acordo com a sua capacidade de mobilização, sem dar carona nas coligações para aqueles que emprestam seu tempo de TV aos candidatos a governador em troca do financiamento de campanhas e de cargos em futuros governos.
O grande problema dessas coligações eleitoreiras é a falta de identidade programática e o compromisso dos eleitos de acomodar candidatos derrotados em cargos de confiança. Unem-se para garantir cadeira nos parlamentos ao sabor de cálculos que indicam maior ou menor chance de eleição. Eleitos, comportam-se como donos dos mandatos, sem levar em conta que, sem os votos dos parceiros, teriam ficado pelo caminho.
Com o fim das coligações, os partidos se obrigam a investir na formação e qualificação de seus quadros, a apoiar a renovação e a estimular lideres emergentes, sob pena de perder espaço em eleições futuras. Desestimula-se, também, a criação de novos partidos, que mesmo com desempenho eleitoral raquítico têm direito a gordas verbas dos fundos partidário eleitoral.
A decisão do Senado, que não tem como ser modificada na Câmara porque a reforma eleitoral precisa estar promulgada até 2 de outubro, altera os planos de deputados que estão pensando em mudar de partido na janela de março.
Na linha pragmática, os descontentes evitarão migrar para siglas em que corram o risco de fazer votação expressiva e não se eleger por não conseguir atingir o quociente eleitoral.
Embora os partidos sejam mal vistos aos olhos dos eleitores, eles são esteios da democracia. O Congresso evitou um desastre maior ao rejeitar o distritão, que valorizava o personalismo, enfraquecia os partidos e aumentava o risco de eleição de subcelebridades, sem compromisso com a coisa pública.
Se há mudança bem-vinda na minirreforma eleitoral é alteração da data da posse de presidente para 5 de janeiro e de governador para o dia seguinte. A troca facilita a vinda de chefes de Estado e de governo e a vida de eleitos e eleitores que querem acompanhar a festa.