Dionísio Cerqueira retoma grupos reflexivos para vítimas de violência doméstica e agressores
Não é de hoje que a violência doméstica chama a atenção da sociedade e requer posicionamento das autoridades.
Por: Deise Bach
30 de setembro de 2020
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Imagens: Divulgação/Pixabay

Com a maior convivência devido à pandemia do Covid-19, o assunto 'relacionamento amoroso' ganhou novas discussões e reflexões, principalmente entre os casais que dividem o mesmo teto. Não é de hoje que a violência doméstica chama a atenção da sociedade e requer posicionamento das autoridades. A comarca de Dionísio Cerqueira criou grupos reflexivos para mulheres vítimas, como já é de praxe do Poder Judiciário de Santa Catarina, e inovou ao trabalhar a problemática também com os homens agressores. Essa foi a primeira vez que eles tiveram a oportunidade de debater com outros que passam pela mesma situação. As atividades previstas para março e abril precisaram ser adiadas para agosto e encerradas em setembro. Todos os cuidados sanitários recomendados foram tomados durante os encontros.

O psicólogo William Kertischka Batista de Lima coordenou e conduziu os grupos. O profissional desenvolve esse tipo de atividade há quatro anos. Tempo suficiente para entender que conversar sobre o problema pode ser o caminho para reduzir a violência, inclusive a doméstica. Segundo ele, é preciso criar espaços de acolhimento na comunidade, onde as pessoas possam contar suas histórias, falar de seus sentimentos e se sentirem de fato ouvidas umas pelas outras. O resultado aparece na relação um a um, com vizinhos, amigos, familiares e em todas as relações do indivíduo.

"Iniciei o projeto com agressores em 2016. Desde então ouço e percebo o estranhamento e críticas das pessoas, inclusive dos participantes que se mostram receosos pelo fato de a Justiça oferecer ajuda ao invés de punição. Porém, ao final dos encontros, o retorno vem em depoimentos como: `Temos que pensar antes de agir, ter mais diálogo com a companheira, perceber nossos próprios erros' ou 'Preciso aprender a conviver com as diferenças. Tenho dificuldade de expressar meus sentimentos'. Aí entendemos o quanto o agressor também precisa de atenção para conseguir quebrar o ciclo da violência", divide o psicólogo.

As mulheres que comparecem aos encontros com outras vítimas também encerram o projeto com depoimentos de transformação, definindo o momento como 'O ampliar de uma nova visão sobre a mulher e o seu valor, poder e capacidade' e 'Hoje eu consigo identificar melhor o que é bom para mim, o que devo e não devo aceitar'.

De Lima ressalta que a Lei Maria da Penha tem fortalecido a luta pela igualdade e o fim da violência de gênero, assim como diversas organizações, formais ou não, de mulheres por todo o país. Mas, ainda assim, os índices de feminicídio continuam assustadores.

"Acredito que zero é o único número aceitável nestas situações. Enquanto não chegarmos a zero, ainda há muito o que fazer", finaliza. Os participantes dos grupos reflexivos são encaminhados a partir de processos de violência doméstica, com medida protetiva, em trâmite na comarca.

Fonte: Pode Judiciário de Santa Catarina
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